O peso dos depósitos de clientes no financiamento dos bancos portugueses aumentou de 45% para 57% num ano.
Os depósitos de clientes representam hoje uma parcela mais significativa no financiamento dos bancos portugueses. No espaço de um ano, o peso destes recursos no financiamento da banca aumentou de 45% para 57%, tornando as instituições nacionais menos dependentes do mercado interbancário e do financiamento do Banco Central Europeu (BCE). No entanto, o preço a pagar é elevado.
O economista-chefe do Santander, Rui Constantino, considera a tendência positiva por duas razões: "Primeiro pela sustentabilidade dos recursos. Os recursos de clientes são, em teoria, mais estáveis que o ‘funding wholesale' nos mercados financeiros globais. Em segundo, como previsto pelo memorando de entendimento com a ‘troika' os bancos têm de reduzir o seu rácio de transformação. Nesse sentido podem fazer duas coisas, reduzir crédito e aumentar depósitos. O aumento dos depósitos ajuda a cumprir esse objectivo". Cristina Casalinho, economista-chefe do BPI, salienta ainda que o aumento do peso dos depósitos no financiamento da banca permite "um aperto menor no crédito à economia, sendo por isso um factor positivo".
Mas o aumento dos recursos de clientes tem sido apenas possível através de um forte aumento das taxas de juro oferecidas nos depósitos. Actualmente, os juros dos depósitos a um ano chegam aos 4,75%, enquanto nas aplicações a seis meses chegam aos 6%. Nos últimos 12 meses, a taxa média praticada nos novos depósitos mais do que duplicou, de 1,75% para 3,82%, sendo mesmo a que mais subiu em toda a zona euro. Números que já levaram o Banco de Portugal a questionar a solidez do sistema bancário, obrigando os bancos portugueses a reportar a existência de depósitos a prazo com juros superiores em três pontos percentuais à taxa Euribor aplicável ao período de cada aplicação. O que nos depósitos a seis meses significa actualmente juros máximos de 4,738%. Mas enquanto o Banco de Portugal se limita, por enquanto, a monitorizar as taxas de juro praticadas, o Banco de Espanha já foi mais longe, impondo penalizações aos bancos que pratiquem taxas de juro acima de determinado limite.
Cristina Casalinho alerta para os perigos inerentes ao actual nível dos juros praticados para captar as poupanças dos portugueses. A economista-chefe do BPI considera que existe um "potencial limitado" para a saída de capital de fundos de investimento, certificados de aforro e do Tesouro para depósitos a prazo, além de que "a poupança cresce lentamente". Assim, "a subida das taxas poderá deixar de atrair novos depósitos e apenas encarecer esta forma de financiamento, pois sobretudo tratar-se-á de canibalização de uns bancos pelos outros em que todos ficam a perder, porque a totalidade de depósitos não aumenta", explica a responsável do BPI.
No entanto as alternativas são escassas. Permanecem as dificuldades de financiamento no mercado interbancário. De acordo com os relatórios e contas da CGD, BCP, BES, Santader Totta, BPI, Montepio e Banif, o financiamento das "outras instituições de crédito" sofreu uma quebra de 5,4 mil milhões de euros no primeiro semestre deste ano face ao homólogo. Ainda assim, CGD, BPI, Montepio e BCP aumentaram a exposição a este tipo de recursos, por norma mais caros do que os fundos do BCE. Aos custos de financiamento há que somar ainda a necessidade de deter colateral para dar como garantia quer junto do BCE quer, em muitos casos, no interbancário.
No total, estes sete bancos financiaram-se no primeiro semestre de 2011 em menos 34 mil milhões de euros face ao homólogo, o que representa uma quebra de 10%.
BES
O BES é o banco onde o peso dos recursos de clientes no seu financiamento mais aumentou, de 33% em Junho de 2010, para 55% em Junho deste ano, seguido pelo Santander Totta, cujo peso passou de 37% para 51%.
Banif
Embora se tenha mantido praticamente inalterado, o Banif detém o maior peso de recursos de clientes no seu financiamento, seguido pelo Montepio, com 64% e pela CGD, com 62%. O BPI é o único banco onde a expressão destes recursos no total do financiamento permanece abaixo dos 50% (48%).
fonte:http://economico.sapo.pt/