Banca nacional continua a convencer depositantes

Apesar dos investidores estarem a castigar as acções dos bancos nacionais, a captação de depósitos continua a crescer.

Os investidores e os depositantes estão a encarar os bancos portugueses de forma diferente. Enquanto os preços dos activos dos bancos indicia baixas expectativas por parte dos mercados, as instituições financeiras nacionais conseguem continuar a atrair depósitos. Os bancos nacionais já perderam 65% de capitalização bolsista este ano. Apesar disto, um dos factores positivos da banca nacional é que consegue atrair depósitos, contrariamente aos bancos gregos, irlandeses e italianos.

As percepções diferentes por parte dos depositantes e dos investidores pode explicar-se pela diferença de objectivos. O administrador da Informação de Mercados Financeiros, Filipe Garcia, refere que "os objectivos são diferentes, os investidores procuram criação de valor, enquanto os depositantes preocupam-se com a solvabilidade do banco". Na perspectiva do economista, a iminente entrada do Estado no capital dos bancos retira aos investidores perspectivas de colherem os frutos da criação de valor por parte dos bancos. É este factor que tem pressionado as acções e não a desconfiança de que algum banco nacional possa falir. Já para os depositantes, basta confiar que os bancos são solventes", explica Filipe Garcia.

Mas o crescimento dos depósitos - que segundo dados do BCE subiram 6,30% entre Setembro de 2010 e Setembro de 2011 - tem um preço. "A confiança dos depositantes não é gratuita e vem com um custo elevado", explica o administrador da Dif Broker. Pedro Lino constata que "o aumento dos depósitos tem sido conseguido à custa da diminuição da rentabilidade dos bancos e ao pagamento de elevados juros, que originou uma acção por parte do Banco de Portugal: penalizar nos rácios de capital as instituições que oferecem maiores juros, pois podem ser conotadas como as que também oferecem maior risco".

Além de oferecerem remunerações mais atractivas, os bancos nacionais estão também a beneficiar da transferência de capital por parte dos aforradores de produtos como fundos de investimento e Certificados de Aforro.

Apesar da confiança dos depositantes nos bancos nacionais, algo que o governador do Banco de Portugal referiu recentemente que "é o melhor activo que se pode ter", os indicadores de risco de dívida e de avaliação de acções reflectem a nota negativa que os investidores dão aos bancos nacionais.

Os ‘Credit-Default Swaps' (CDS) dos bancos portugueses são dos mais caros da banca europeia. Os CDS são uma espécie de seguro que dá aos seus detentores o direito de receber o valor aplicado em dívida no caso de um evento de crédito.

À excepção da Caixa Geral de Depósitos, os CDS dos quatro maiores bancos nacionais negoceiam acima dos 1000 pontos. Quer isto dizer que os investidores pagam mais de um milhão de euros anuais para segurar uma posição de dez milhões de euros.

"Os CDS reflectem a forma como o risco dos bancos é percepcionado. Este risco envolve o tipo de accionistas, carteiras de crédito, activos detidos pelo bancos e o que o mercado de CDS nos está a dizer é quais são os bancos com maior risco, tendo em conta uma necessidade de recapitalização nos momentos de maior adversidade", explica Pedro Lino. Apesar de serem um instrumento de cobertura de risco, os CDS podem também ser utilizados para lucrar com a pior percepção sobre a dívida de determinada entidade.

Já segundo o rácio preço-lucros (PER), um dos mais populares indicadores de avaliação utilizados pelos investidores, os bancos portugueses são os mais baratos dos periféricos, à excepção do italiano Monte dei Paschi. Isto indicia que os investidores estão a subavaliar as acções dos bancos nacionais, que transaccionam com um PER actual entre 2,7 vezes (caso do BPI) e seis vezes (no caso do BES).

Além disso, também o rácio que compara a cotação com o valor contabilístico dos bancos está a valores historicamente baixos. E acções a negociar a menos de 20% do valor contabilísticos não é um exclusivo dos bancos dos países intervencionados. "O valor contabilístico deve descer substancialmente nos próximos trimestres", adianta Pedro Lino. Refere que os investidores estão a descontar efeitos como os défices nos fundos de pensões, o aumento do incumprimento e risco dos clientes e imparidades com activos financeiros. "Com a incerteza gerada quanto às dividas soberanas, creio que o desconto que o mercado está a dar é excessivo", avalia. E a perspectiva de que os mercados estão a castigar em demasia as acções dos bancos dos países periféricos está a ganhar adeptos entre os maiores bancos de investimento do mundo. Segundo o Jornal de Negócios, os analistas do UBS defenderam que caso a situação nos mercados se estabilize serão os bancos que mais estão a ser agora subavaliados pelo mercado os que mais poderão disparar.

Recorde-se que a banca portuguesa tem sido penalizada sobretudo pela crise da dívida soberana que afecta Portugal e pela descida do ‘rating' República.


Os bancos periféricos à lupa

Os mais castigados em bolsa
A crise de dívida soberana atirou as acções dos bancos para quedas históricas. Entre os bancos que estão nos índices de referência das bolsas periféricas, o grego Piraeus Bank é o que mais perde. As acções derrocam 87% desde o início do ano. Segue-se o BCP, que leva uma desvalorização de 81%. Ainda na casa das desvalorizações de 80% está outra entidade grega, o Eurobank. Os irlandeses Bank of Ireland e Allied Irish Banks cedem 77% e 73%, respectivamente. O único banco a escapar às perdas de dois dígitos é o espanhol Bankinter. As acções desta instituição financeira avançam mesmo 2,26% desde o início do ano. O banco conta aumentar este ano em 20% os lucros, apesar da crise financeira europeia e está a levar a cabo uma reestruturação de custos. Regressando aos bancos portugueses, o BPI perde 67% e as acções do BES desvalorizam 55% em 2011.

Bancos com os CDS mais elevados
Uma das formas de aferir o risco da dívida dos bancos é através da cotação dos ‘Credit-Default Swaps', que funcionam como um seguro caso exista um eventual incumprimento. Quanto mais alta a cotação, maior o risco percebido pelos investidores. Os bancos helénicos têm os CDS mais caros, com o Alpha Bank a cotar em 2.200 pontos. Quer isto dizer que os investidores pagam 2,2 milhões de euros para protegerem uma posição de dez milhões de euros em dívida daquele banco. Já em relação aos bancos portugueses os CDS do BCP estão a cotar nos 1.679 pontos, enquanto o BES e o BPI negoceiam em 1.074 e 1.063 pontos, respectivamente. Entre os bancos portugueses, a dívida da Caixa Geral de Depósitos é a mais barata de segurar, com os CDS a cotarem em 957 pontos. O banco com a dívida menos arriscada da Europa, segundo a cotação dos CDS, 
é o holandês Rabobank.

Os mais baratos
As quedas nas bolsas deixaram as acções dos bancos periféricos com rácios de avaliação deprimidos. Tendo em conta o rácio preço-lucros (PER), que compara a cotação actual com os resultados por acção, o banco mais barato é o italiano Monte dei Paschi. As acções negoceiam duas vezes acima dos lucros por acção. Os bancos nacionais também aparecem entre os mais baratos, segundo este rácio. O BPI tem um PER de 2,3 vezes, o BCP de 3,35 vezes e o BES de seis vezes, segundo dados da Bloomberg. Entre os bancos analisados, o italiano Banca Emilio Romagna é o que transacciona com um PER mais elevado: 21 vezes. Já outro indicador de avaliação, que compara o preço das acções em relação ao valor contabilístico mostra que todos os bancos dos países periféricos negoceiam abaixo do valor dado aos seus activos nos balanços, o que indicia os receios de que tenham de reavaliar os activos devido à crise de dívida soberana.

Os mais valiosos
A queda das acções levou os bancos a perderem milhares de milhões em capitalização bolsista. Entre os bancos cotados no PSI 20, apenas o BES resiste com uma capitalização bolsista acima de mil milhões de euros, valendo 1,5 mil milhões de euros. Segue-se o BCP, com um valor de mercado acima de 720 milhões de euros e o BPI (mais de 390 milhões de euros). No seu conjunto, a capitalização bolsista dos bancos nacionais, incluindo o Banif, situa-se em 5,1 mil milhões de euros. O valor é nove vezes inferior ao maior banco dos países periféricos em capitalização bolsista, o espanhol Santander que tem um ‘market cap' de 48 mil milhões de euros. Ainda assim, o banco espanhol já perdeu 18 mil milhões de euros de capitalização bolsista desde o início do ano. Na Grécia, o banco com maior valor de mercado é o National Bank of Greece vale 1,9 mil milhões de euros.

fonte:http://economico.sapo.pt/n

publicado por adm às 22:14 | favorito