BCE obriga banca a tirar dinheiro da dívida para dar às empresas

Os bancos portugueses poderão vir a ser obrigados a vender os títulos de dívida soberana que detêm em carteira e direcionar o dinheiro para a concessão de crédito à economia. Isto porque o Banco Central Europeu (BCE) quer impedir que a banca europeia continue a usar a liquidez conseguida junto da instituição, a juros baixos, para comprar títulos de dívida pública, em vez de aumentar a concessão de crédito às famílias e às empresas.

De acordo com o Financial Times, a instituição liderada por Mario Draghi quer introduzir alterações regulatórias para travar essa compra de dívida pública por parte dos bancos europeus, através do recurso ao financiamento concedido pelo BCE, exigindo a constituição de uma reserva de capital para cobrir os riscos da sua carteira de crédito. Em entrevista ao jornal, Peter Praet, membro da Comissão Executiva do BCE, argumentou que caso as obrigações do Tesouro sejam tratadas “de acordo com o risco que representam para os bancos” na avaliação de ativos das instituições financeiras, provavelmente os bancos não utilizarão tanta liquidez do BCE para reforçar as suas posições em dívida pública.

A confirmar-se, a medida irá afetar negativamente a banca nacional, que mantém uma elevada exposição à dívida pública. Contas feitas, no final de setembro passado, os três maiores bancos cotados detinham uma carteira de dívida pública total que ascendia a 23,3 mil milhões de euros. No caso do BCP, o banco contava com 9,8 mil milhões de euros, 11,8% do total de ativos, enquanto o BES detinha 6,9 mil milhões, equivalente a 8,6% do total de ativos, e o BPI com 6,6 mil milhões, representativos de 15,3% do total de ativos. Do montante total, a “fatia de leão” da carteira de dívida dos três bancos está investida em títulos soberanos portugueses, responsáveis por 74% da carteira, estando 8,1 mil milhões de euros aplicados em bilhetes do Tesouro e 9,1 mil milhões em obrigações do Tesouro.

Numa nota de análise ontem emitida, o Caixa BI considera que se trata “de uma notícia com impacto potencialmente negativo”. O banco de investimento não só sublinha que “será importante perceber a metodologia a aplicar pelo BCE, nomeadamente em matéria de avaliação do risco”, como alerta que “a mera penalização da carteira de dívida pública não será, per se, um fator de aceleração da concessão de crédito à economia”. Esta é, igualmente, a opinião dos empresários contactados pelo DN/Dinheiro Vivo que exigem mais crédito e mais barato (ver caixas). Da parte dos bancos, o argumento de defesa é o de que há financiamento disponível para conceder, mas o que falta é procura por crédito, uma vez que crise levou à queda do investimento.

fonte:http://www.dinheirovivo.pt/Ec

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